O post de hoje é para você, residente do Reino Unido, mas também é para você que ama a história do Reino e adora visitar uma propriedade com data tão antiga que nos remete aos contos de fada, com tanta história, que transborda o coração de alegria ao saber que pisou no mesmo lugar que um monarca importante e/ou esteve no mesmo lugar que um vilão foi enforcado ou decapitado. Sim, irei falar do que mais gosto de visitar em minhas andanças: castelos, palácios, prisões medievais, enfim, propriedades históricas.
Confesso que, desde que me mudei para a Inglaterra, fiquei um pouco obcecada pela história da monarquia e a construção social do país mas, gente, quando alguém se muda para um país com tanta história e onde um dos monarcas mais famosos – e que não foi o primeiro – tem mais idade do que o que chamam de descobrimento do Brasil, não tem como não deixar a sede pelo conhecimento tomar conta, concorda?
Pois bem, eu, professora, curiosa, não consegui me conter. Foram muitos livros adquiridos em livrarias e charity shops (lojas de caridade), mas não foi o suficiente para me contentar. Definitivamente eu precisava pisar nesses lugares. Porém a grana é curta e como diriam os Mamonas Assassinas: “Money que é good, nós num have“. Então irei falar da forma que encontrei para baratear os custos das minhas visitas: foi assim que conheci o English Heritage.
Aqui na Inglaterra existem duas instituições – que eu conheça – que fazem este trabalho de manutenção de propriedades históricas para manter viva a história do país. São elas o National Trust e o English Heritage. Para saber sobre o primeiro você pode clicar aqui e ler o que a Maria Eduarda escreveu sobre ele. Hoje, irei falar sobre a instituição que escolhi para me associar.
O que é o English Heritage?
Como eles mesmos se autodenominam, esta é uma instituição que coloca os interesses de preservar e manter a cultura inglesa em primeiro lugar. De pouquinho, começaram no início do século 19 e hoje já contam com mais de 400 propriedades das quais cuidam, conservam e mantêm para contar história.
No início da história da instituição, a preservação cultural da história inglesa era responsabilidade do departamento de arquitetura, mas em 1913 – através de um ato do Parlamento – este teve que começar a aumentar a sua coleção com terrenos e construções que contassem a história britânica. Em meados dos anos 1930 algumas construções conhecidas, como o Stonehenge, já faziam parte da coleção e contar suas histórias se tornava cada vez mais importante, assim como sua manutenção.
Ao final da Segunda Guerra Mundial o governo determinou que a manutenção dessas propriedades estava ficando muito custosa e decidiu que algumas delas passariam para os cuidados do National Trust, o que irritou um bocado o Ministry of Works. Apenas em 1983 esta coleção se tornou parte da Cultura Nacional da Inglaterra e passou a ser chamada de “Comissão de prédios históricos e monumentos” (Historic buildings and monuments commission), o que não era um nome nada convidativo; por isso, decidiram renomeá-la como a conhecemos atualmente, English Heritage.
O trabalho da instituição consiste em cuidar das coleções de propriedades históricas, manter a cultura inglesa viva e fazer funcionar o sistema de proteção à cultura nacional. Esse trabalho foi sendo desenvolvido com cada vez mais cuidado e carinho e algumas mudanças foram feitas para auxiliar a angariar fundos para a manutenção dos prédios, criando-se o que hoje se conhece como membros associados (membership). Em 2015, o governo concordou em conceder fundos destinados às instituições de caridade caso a instituição se tornasse uma delas e, desde então, assim foi feito.
Como ser membro?
Antes de começar a falar sobre formas de se associar ao English Heritage, gostaria de deixar bem claro que não ganho nada com a propaganda; estou apenas falando sobre algo em que eu sou membro associado. Usufruo das propriedades da instituição e indico para amigos que se mudam para cá e que gostam de vivenciar parte da história. Dito isso, voltamos à programação normal.

Normalmente, nos associamos a instituições pelo período de um ano. Porém, o que acho muito interessante nesta é que você não precisa ser residente do país para adquirir: o Overseas pass pode ser comprado para 9 ou 16 dias pela terra da rainha. O valor do passe (preço válido até 31/03/2017) é de £30 e £36, respectivamente, e se você está pensando em fazer algumas visitas a sítios históricos, vale a pena o custo benefício.
Mas você, residente da parte inglesa da ilha, também pode fazer o seu passe anual e aproveitar. Lembra que falei que os ingleses têm por hábito passear ao ar livre, sentar para piqueniques no parque e levar crianças e cachorros para lá? Então, quer melhor lugar para fazer isso que um castelo medieval e com direito a um tour guiado e beber um pouco da cultura local?
Aqui pertinho da minha casa tem um castelo conhecido como Kenilworth Castle e já falei dele em posts anteriores (clique aqui); foi neste local que me associei a essa instituição. Neste castelo é possível vivenciar um pouco da era Tudor, pois foi nesta época que ele teve seu maior uso – você poderá pisar nos mesmos degraus em que pisou a rainha Elizabeth I, curtir a mesma vista que a monarca teve e subir em suas torres ou ruínas, no caso. E no verão, funcionários qualificados remontam fatos históricos e convidam o público a participar. Sinceramente, é uma atração com foco nas crianças, mas não existe a possibilidade de não se deixar envolver: meu marido foi, inclusive, julgado em uma dessas montagens, quando visitamos o castelo com amigos. Foi impagável!

Além das encenações o English Heritage organiza eventos na Páscoa para a caça aos ovos e eventos em castelos amaldiçoados para o Halloween; celebram-se os dias de primavera, verão e cada vez mais esses eventos vêm atraindo visitantes e membros para manter a cultura sempre viva. Eu, particularmente, acho o máximo manter a história de um lugar viva, fazer seus residentes entenderem a construção do país, a importância da manutenção dos locais e sua história, a organização monárquica, ou apenas ter um dia de descanso com uma paisagem de deixar de queixo caído, podendo levar crianças, animais de estimação e curtir um prazeroso e cultural dia com família e amigos.
Levando em consideração que o membro pode visitar os sítios da instituição quantas vezes quiser, só de visitas ao Castelo de Kenilworth e ao Stonehenge, sempre que temos alguma visita em casa, o passe anual já está pago. Isso, sim, foi investimento cultural!
Texto originalmente publicado na minha participação mensal no blog Brasileiras pelo Mundo.